Semana passada, na terça-feira dia 3 de março, fui assistir a um debate que fez parte da exposição que comemora 35 anos do histórico projeto gráfico do anuário do Banco do Brasil de 1972, onde foram utilizadas gravuras de artistas plásticos brasileiros. Essa iniciativa inédita no Brasil e entre as pioneiras no mundo foi muito importante pois demonstrou como design pode contribuir para imagem empresarial. Antes os anuários de bancos eram relatórios áridos, com grandes tabelas contábeis e partir daquele momento eles passaram a ser parte da identidade visual das empresas. O tema do debate foi "Imagem Empresarial e Design" e participaram George Vidor (jornalista e economista), Luciano Deos (arquiteto e diretor-presidente do GAD' Branding & Design) e Alexandre Wollner, (Designer, um dos fundadores da ESDI - RJ).
O debate foi de bom nível, começou com o designer Alexandre Wollner falando sobre sua visão do que é design e apresentando através de casos parte do seu método trabalho, em seguida Luciano Deos fez uma apresentação onde explicou o conceito de "branding"(gestão de marca) que a sua empresa implementa em clientes como Claro, Oi, Esso, Ipiranga e por aí vai. A abordagem do comentarista de economia da Globo news, George Vidor, foi mais pelo viés da ética da convicção no merchandising, onde criticou empresas que impõe sua imagem dentro de matérias jornalisticas como fazem os jogadores de futebol com seus bonés, logo que terminou a explanação retirou-se, tinha outros compromissos e não pôde participar do debate.
Depois dessa longa e monótona introdução posso comentar o que me chamou mais a atenção no debate, o conflito de visão de mundo ou como dizem alguns o conflito de ideologias. Na verdade essa não é a definição correta de ideologia, que deveria ser sempre um conjunto de ideias da elite e dos proprietários de meios de produção. Mas como esta definição é pouco utilizada, vamos no popular, qualquer um pode ter sua própria ideologia, sua visão de mundo.
Imaginem um designer funcionalista que entende que o universo se explica pela sequência de Fibonacci (1,2,3,5,8,13,etc...), que nada pode ser efêmero e que o mundo deve ser organizado, regulamentado e sistematizado dentro de um processo modular debatendo com um marqueteiro, só podia dar no que deu, comédia total. Para piorar o público na sua maioria era formado por alunos e professores de design, ou seja, eram do meio acadêmico. É incrível a dificuldade que os profissionais de comunicação tem de se comunicar entre si, isso só pode ser explicado através do conflito ideológico. Quase todas as perguntas foram superficiais e as resposta serviam mais ao discurso do palestrante do que ao aprofundamento em questões relevantes.
Lógico que o nível dos participantes era altíssimo, Wollner é um dos 5 mais importantes designers da história do Brasil, o Luciano Deos é diretor de uns dos maiores escritórios de Design do Brasil com mais de 20 anos de mercado, o coordenador do debate João de Souza Leite, professor da ESDI e grande historiador do design brasileiro e a platéia tinha vários professores da ESDI e da PUC como, Rodolfo Capeto, Lauro Cavalcanti, Alberto Cipiunik, André Stolarski, etc. Mas é incrível como esse tipo de debate sempre recai nos mesmo problemas; discussão de termos tipo "defina","o que é?", "para que serve?" ou "quem inventou?", com isso a discussão não anda.Ainda pior quando algum aluno pergunta sobre formulas mágicas,"O que o sr. acha que falta para o Brasil ser uma potência" ou "Qual a solução para a situação do Design no Brasil?".
Acho que muitas respostas devem ser tiradas da história, quem estuda um pouco de história consegue entender as bases que formam a sua própria "ideologia". Isso coloca a mostra nossa parca condição humana, somos fruto de um sistema complexo de forças que resultam na nossa identidade, mas somos minúsculos diante deste sistema. O funcionalismo é descendente direto do pensamento iluminista, da revolução industrial e do ideal cartesiano, a visão pragmática, neo-liberal e materialista do marketing e o nosso sistema acadêmico também o são. Toda nossa sociedade ocidental tem a mesma origem de pensamento, porém esse pensamento tem várias facetas e essas facetas de contradizem em dados momentos. Somos uma nação sem identidade própria, isso agrava a situação, por isso é importante uma visão geral e uma "memória" viva, para podermos nos comunicar de maneira eficiente e "resistir" a nossa condição.
é isso...falei demais...rs